FLÁVIO CERQUEIRA

“Tinha que acontecer
(Cabeça de bandeirante)” 2016
Escultura em bronze de 800 Kg e 2,5 metros de diâmetro

Tinha que acontecer (cabeça de bandeirante), de 2016, em que ressignifica mais uma vez o uso do bronze e sua relação com os heróis fabricados pela história oficial. A cabeça construída em grandes dimensões, chegando a dois metros e meio de largura, foi pensada a partir do perfil dos sertanistas, homenageados em diversos monumentos na cidade de São Paulo, mas cujas glórias foram galgadas num contexto de extermínio quilombola e de escravização indígena.

Flávio decidiu transformar os fundadores do São Paulo em anti-heróis. Aqui “decapitou” os pioneiros do corpo da história e caiu uma das cabeças de São Paulo. “É preciso analisar a história e contá-la novamente”, observa o escultor. “Apesar dos monumentos que existem na cidade em homenagem aos bandeirantes, eles eram bárbaros. Eles exterminaram, escravizaram os índios e aniquilaram os quilombos”.

“Uma palavra que não seja esperar” Bronze, 175 x 38 x 49 cm, 2018




Flávio Cerqueira
São Paulo, Brasil, 1983.
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil
http://flaviocerqueira.com Flávio Cerqueira é mestre em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista-UNESP. Trabalha com processo tradicional de escultura conhecido como fundição por cera perdida e fundição em bronze, e explora a figura humana como protagonista.

Como artista / contador de histórias, Cerqueira cria vigorosas esculturas de bronze figurativas, focadas na construção de narrativas e representação de ações. Ele retrata seus personagens em situações cotidianas comuns e universais, como em momentos de introspecção, reflexão, concentração e ação. A presença de objetos do cotidiano, como espelhos, livros, troncos de árvores, rampas, escadas, cria tensão com as figuras humanas de bronze fora de escala. Esses cenários ocorrem dentro do cubo branco, que funciona como um pedestal, uma tentativa de desfocar as fronteiras entre a escultura e o mundo e entre a obra de arte e o espectador. Sua intenção é problematizar a relação entre espaço e espectador. Cerqueira usa a escultura como ferramenta para imobilizar o instante, o momento do fragmento de uma narrativa, onde o espectador se torna co-autor na produção de sentido para dizer que a história não tem fim, mas com vários finais as fronteiras entre fantasia e a realidade desaparece.