Usina de Arte. Reativada pela arte, Usina Santa Terezinha impulsiona um novo ciclo de desenvolvimento na Zona da Mata

A USINA A partir da combinação de um museu de arte contemporânea ao ar livre instalado em meio a um jardim botânico, a Usina de Arte tem sido, desde 2015, um instrumento de transformação socioeconômica para mais de 6 mil pessoas que residem em seu entorno, a partir de iniciativas que irrigam educação, cultura, resiliência ambiental, empreendedorismo e autoestima na vila de Santa Terezinha.

Comunidade que recebe o mesmo nome da Usina Santa Terezinha, cuja operação começou em 1929, sob a condução da família Pessôa de Queiroz. Em menos de 20 anos de fundação, o empreendimento alcançou o posto de maior produtora de álcool e açúcar do Brasil nos anos 1950, contando com uma estrutura que reunia hangar, mais de 100km de estradas de ferro, 21 locomotivas e mais de uma centena de vagões para a logística no negócio sucroalcooleiro. Em 1998, atingida por grave crise que assolou outros empreendimentos do tipo na região, a usina encerrou suas atividades de moagem.

Passados quase 75 anos do seu apogeu, o espaço localizado no município de Água Preta, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, assiste a outro ponto alto de sua trajetória - e que não passa mais pela transformação da cana-sacarina em álcool e açúcar. Hoje, as safras da Usina de Arte entregam uma nova visão cultural, socioeducativa e sustentável para o Nordeste brasileiro. Um instrumento de renovação a partir da ruptura com o passado, construindo o futuro a partir dos férteis alicerces da cultura, educação e meio ambiente.

Em meio a um perene trabalho de reflorestamento (até o final de 2022, 35 hectares receberam cerca de 10 mil plantas de mais de 600 espécies), o Parque Artístico-Botânico é apenas a parte mais visível, e visitada, de uma ampla rede de apoio à vila de Santa Terezinha e aos municípios de Água Preta (PE) e Campestre (AL). São exemplos a escola de música, a biblioteca e centro de conhecimento público com potente acervo literário, FabLab com terminais de computadores conectados à internet, impressoras em 3D e cortadora a laser para projetos da comunidade, além de parceria com as unidades escolares no apoio de novas práticas pedagógicas.

QUEM SOMOS

BRUNA PESSÔA DE QUEIROZ, FUNDADORA E PRESIDENTE DA USINA DE ARTE “É de nossa natureza pensar em formas de produzir arte pelos pilares da inclusão, participação e modificação da realidade social e econômica. Esperamos cada vez mais colher esses frutos que temos semeado ao longo dessa trajetória, que está sempre em atividade, avançando e reunindo condições para que cada um que mora no entorno da Usina de Arte possa sonhar mais alto, acreditar e realizar seus quereres. Estaremos sempre à disposição dessa comunidade para contribuir com as ferramentas necessárias para que esses sonhos se tornem reais!” VÍDEO
RICARDO PESSÔA DE
QUEIROZ, FUNDADOR DA USINA DE ARTE “Guardo com carinho uma camisa da edição 2017 do nosso festival anual Arte na Usina, onde se pode ler “A arte transforma”. A Usina de Arte é isso, mais que um jargão, uma possibilidade real de mudança de vida e cenários. Não somos só museu, mas uma instituição parceira da sociedade, que cria estruturas para geração de renda e valor para mais de 6 mil pessoas. Ao iniciarmos a Usina de Arte, tínhamos em mente que era preciso sair de um modelo centralizador, no qual a Usina provia o sustento de todas as famílias, e partir para uma ideia em que cada um desenvolvesse a sua própria usina de acordo com as suas habilidades. Não é sem emoção que posso de dizer que Santa Terezinha se tornou um complexo de usinas.”
JOSÉ RUFINO, O CURADOR
DO INÍCIO DO PROJETO ARTÍSTICO Em meados de 2015 chega a Usina José Rufino, e desde o primeiro momento deu-se uma vivência catártica no artista que tem como sua principal pesquisa artística memória e esquecimento. Sendo ele próprio, neto de um tradicional senhor de engenho de terras paraibanas, Rufino encontra na antiga Usina Santa Terezinha desativada as suas próprias memórias de infância e família. Tocado por este processo visceral, Rufino passa a integrar o grupo inicial de debates e discussões em busca de ressignificação possível para trazer à comunidade da usina uma nova forma de tocar a vida adiante. Participa da criação do nome de fantasia Usina de Arte e permanece na função de curador até o início do ano de 2021.
MARC POTTIER,
A USINA CRIANDO
PONTES Fazer parte da aventura da Usina de Arte é, antes de tudo, entender a importância de um projeto pensado para a comunidade de Santa Terezinha, um projeto cultural que deve integrar a memória do lugar e a história desta parte histórica do Brasil. Aqui pontes devem ser criadas entre o público e o mundo da arte, pois a educação é parte fundamental do projeto. Com mais de 40 obras instaladas, os envolvidos tem a responsabilidade de fazer da Usina uma referência em arte no espaço público. E a ideia de convidar artistas estrangeiros, tem com objetivo, além de provocar um diálogo frutífero com os artistas nacionais, apresentar uma região apaixonante e inspiradora a ser transposta em suas obras. Estamos apenas no começo de algo muito promissor. Os primeiros passos já falam por nós! VÍDEO

HISTÓRIA Passados 15 anos do encerramento das atividades da usina, o casal de descendentes do fundador do empreendimento voltam a frequentar a casa construída em 1936 para ser a residência de José Pessoa de Queiroz nos fins de semana, como uma casa de campo. O ano era 2012. O mesmo que Ricardo e Bruna Pessôa de Queiroz fizeram uma visita ao Centro de Arte Contemporânea de Inhotim, instalado na cidade de Brumadinho (MG). Foi lá que se apaixonaram pelo trabalho do artista Hugo França, que desenvolve esculturas mobiliárias em madeira. França foi convidado para conhecer a Usina em 2013, e foi. Depois novamente em 2014. A partir daí, surgiu a ideia de convidar outros artistas para frequentarem o espaço, dialogar com o entorno e com as questões culturais da região.

Em 2015, o artista paraibano José Rufino se somou a esse embrião de projeto, vendo naquele ambiente a riqueza conflitante entre opulência e decadência, com possibilidade real de transformação a partir do contato com o entorno e da potente combinação de pessoas, arte, educação e meio ambiente. Nascia a Usina de Arte, regida pela Associação Socioambiental e Cultural Jacuípe, que hoje reúne mais de 40 nomes de diversos setores sociais.

É essa estruturação polinuclear que torna o projeto particular no panorama da arte brasileira. A Usina de Arte traz no seu DNA uma combinação de códigos de identidades e tradições locais com organicidade, amparada em residências artísticas e trocas com a população. Artistas são convidados a ocuparem esse território que conta, e carrega, tanta história e, a partir dessa vivência, produzem obras e legados que geram impacto na vida das pessoas.

FUTURO SUSTENTÁVEL Naquele 2015, a Usina de Arte já nasce sabendo que arte não é apenas paisagem, e junto ao aspecto museológico do projeto, a perspectiva de sustentabilidade socioambiental receberia a mesma atenção. Ao tempo que o Parque Artístico Botânico conta com obras de porte internacional em simbiose com a natureza, o projeto mantém um projeto de reflorestamento local com consequente, e já sentida, recuperação do habitat de animais silvestres da região em um movimento de reversão do desgaste pela terra no pasto e monocultura da cana-de-açúcar.

Sempre atento ao potencial humano da região, o projeto destina aos estudantes das escolas locais programas de estágios com treinamentos vinculados às atividades desenvolvidas pelo projeto, em especial, nos segmentos de arte e de botânica. Com esse conjunto de ações, o poder criativo da população de Santa Terezinha é estimulado, abrindo oportunidades de desenvolvimento sustentável para a comunidade.

Ondas contínuas de estímulo que são geradas a partir de um calendário regular de eventos culturais, cursos e oficinas, oferecendo estruturas capazes de viabilizar novas perspectivas de vida, com realizações pessoais e profissionais. E os resultados já podem ser conferidos de perto. Desde o início da Usina de Arte, a região passou a contar com mais de dez restaurantes, pousada, clube pesque-e-pague, centro de artesanato, guias para passeios ecoturísticos, camping e o fortalecimento da cultura de hospedagens domiciliares.

APOIO E PARCERIAS A Usina é administrada pela Associação Sociocultural e Ambiental Jacuípe, organização sem fins lucrativos que reúne mais de 40 membros de segmentos plurais da comunidade da Usina Santa Terezinha, sendo viabilizado a partir do apoio de pessoas físicas e jurídicas.

O projeto conta com o apoio do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães e Sebrae.

Dentro do município de Água Preta a parceria é também estabelecida com a Rádio Campestre, Colégio Avançar, Escola Municipal Severino Canto, Grupo Escolar João Vicente de Queiroz e Colégio Municipal Terezinha Pessoa de Queiroz.

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