MATHEUS ROCHA PITTA

“Um Campo da Fome” 2022

Um Campo da Fome é uma horta de concreto e barro. Cada um dos 30 canteiros contém um lote de frutas, raízes e legumes feitos em barro (aproximadamente 9000 peças), por um artesão tradicional local. O campo cobre uma área de 720 metros quadrados.

Historicamente, a colonização do Brasil começou com a monocultura da cana de açúcar, nas terras férteis junto à costa. A criação de gado, subsistência e agricultura familiar foi empurrada para o interior menos fértil, os famosos “sertões”, a parte mais pobre do país e a principal fonte de migração interna no século XX. A obra inscreve-se neste contexto geográfico contraditório, mas também ao longo de uma tradição literária e cinematográfica brasileira que localiza os “sertões” como um local de resistência política e mito (por exemplo a "Estética da Fome", de Glauber Rocha).

O campo é vedado e ninguém pode entrar nele, excepto por um caminho interno, também cercado. O seu título vem de um lugar homônimo em Atenas, descrito pelo geógrafo grego do século I Pausanias. Ao leste da Acrópole, havia um pedaço de terra dedicado a Boulimos, Fome. Era um campo nunca cultivado, descansando no centro da cidade humanizada. O campo da fome representava o a vida selvagem que o homem não devia tocar: fazê-lo era considerado um sacrilégio punido pela fome. Deixada intocada, a escultura realiza assim este encerramento e contenção da fome, como um amuleto ou altar que evitaria sua propagação.



Matheus Rocha Pitta
Tiradentes, Minas Gerais, Brasil, 1980
Vive e trabalha em Berlin, Alemanha
Em período curto de tempo e por meio de projetos diversos, Matheus Rocha Pitta sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a ada novo trabalho, enunciado crítico sobre os gestos que regem a vida comum. O artista remove os gestos de seu fundo biográfico e os apresenta como atos estéticos com uma dimensão histórica. Atraves do uso de fotografias, videos, esculturas e instalações, Rocha Pitta constroi seu próprio repertório de gestos, que são ativados diretamente com o público de suas exposições. Sem apelar para enunciados discursivos de disciplinas que tomam os gestos de troca como objeto de investigação frequente (economia, filosofia, política), Rocha Pitta articula objetos e imagens que inventa para gerar conhecimento que não cabe naqueles campos de estudo, mas que assumem implicações éticas de grande alcance.