MÁRCIO ALMEIDA

“Eremitério Tropical” 2016

A obra “Eremitério Tropical” é uma edificação em alvenaria, coberto por vegetação (Heras - Ficus pumila e Parthenocissus tricuspidata), um gramado (Zoysia Japônica) em circunferência e Trombetas de anjo (Brugmansia suaveolens), planta de efeitos alucinógenos. As vegetações, crescem junto as demais plantadas no jardim botânico, transformando–se e integrando-se à paisagem, para ao final ficar quase invisível, um ‘não lugar’. O conceito, parte da pesquisa dos movimentos dos Eremitas, cujo isolamento, os leva a desobediência civil, já que deixa de “existir” para o Estado, esquivando-se dos seus deveres e direitos de cidadão. Tais movimentos podem ser vistos como os primeiros movimentos performáticos.

O título da obra foi “retirado” do livro ‘Cartas da prisão e do sítio’, coletânea de cartas do Frei Fernando de Brito, por ocasião de sua prisão e quando morava em Sítio do Conde, pequena comunidade do interior da Bahia, cuja moradia ele chamava de Eremitério Tropical.

O site-specific foi criado durante a residência do artista na Usina de Arte, uma antiga usina de cana de açúcar, transformada em um parque Artístico – botânico.

O universo da Cana de açúcar, com seu passado de escravidão e de lutas trabalhistas, tema recorrente nas obras do artista, aparece agora, subvertendo as ordens hierárquicas do trabalho, convidando para o lugar de trabalho seus antigos funcionários, desta vez para prática do ócio.

Neste lugar reservado à reflexão, com sua arquitetura labiríntica, mas com várias entradas e várias saídas, possibilitando a escolha de caminho a seguir e suas estratégias de mudanças na vida.

A obra também integra o movimento solar, onde o sol rompe o portal do Eremitério, no dia 22 de setembro, Equinócio de Primavera, iniciando um novo período de transformação e ciclo vital da natureza.

O visitante é convidado a experienciar um estado de performance individual ou coletiva.



Márcio Almeida
Recife, Pernambuco, Brasil, 1963
Vive e trabalha no Recife, Brasil
www.marcioalmeida.org Multimídia, iniciou sua carreira na década de 1980 e, desde então, desenvolve seu trabalho utilizando variados suportes: pinturas, desenhos, gravuras, objetos, fotografias, vídeos, instalações, inclusive algumas destinadas a intervenções urbanas. Seu olhar e interesse concentram-se em temas do comportamento humano ligados à noção de deslocamento, transitoriedade e pertencimento. Direciona seu foco, também, para questões de geopolítica e de ocupação do espaço urbano.