JÚLIO VILLANI

“Três andaimes para um retrato” 2011

Ferro, laca industrial
130 x 141 x 88 cm; 93 x 115 x 115 cm; 144 x 133 x 118 cm

Contrariamente ao procedimento do auto-retrato – que consiste em interrogar quem se é em um exato momento – o exercício ao qual se abona Julio Villani em seus Andaimes para um retrato – o seu – consiste em buscar entender como o sujeito se tornou aquele que se tornou: é um homem em devir que ele retrata. A peça auto-referencial, alicerce do projeto – a forma cônica, os dois círculos de diâmetros diferentes ligadas por três hastes – lembra um popular suporte de coador de café, sobre o qual o artista acoplou diversos elementos. A primeira construção foi rapidamente acompanhada de uma segunda, para se tornar finalmente uma trilogia. Nada impede que, no futuro, ele acrescente um quarto, um quinto, um enésimo andaime ao conjunto. Afinal, a empreitada do auto-retratista não tem fim; não há resposta definitiva à pergunta "Quem sou?" – e a busca de si é por definição susceptível de ser sempre prolongada.


Julio Villani
Marilia, São Paulo, 1956
Vive e trabalha em São Paulo e Paris
www.julio-villani.com Julio Villani se formou entre São Paulo, onde cresceu, e Paris, onde forjou sua identidade de artista. Sua escolha deliberada por esse desdobramento e a forma construtiva que lhe imprimiu dão a sua obra uma dimensão dinâmica, que se determina, paradoxalmente, pela unidade. Onde outros seriam atingidos pela divisão e pela dispersão, Villani encontra matéria e motivo para concentração e reunião, abrindo uma vereda que segue à risca a obsessão de um olhar que busca revelar a face secreta das coisas.

Fio, linha, rede, nó... a arte de Julio Villani é habitada pela idéia de vínculo, de contraponto, às vezes de oposição; ela se constrói a partir da organização de um vaivém, de uma permuta — e é no âmago desta, nesse “entre-dois”, que tudo se dá.

O problema da identidade, subjacente a seu procedimento, é apreendido por todo um trabalho em torno da memória. O processo de recuperação adotado pela artista e o tipo de reciclagem a que ele submete os objetos que integra é sua forma de realizar a conjugação de duas temporalidades com o objetivo de constituir uma nova.

Entre geologia e genealogia a distância é mínima: uma mesma dimensão palimpsesta caracteriza a idéia da sedimentação do espaço e do tempo. É por um processo análogo que a arte de Julio Villani se constitui e adquire corpo e raiz, independentemente de toda consideração de fronteiras, visando o surgimento de uma linguagem universal.

[P. Piguet, trechos de « Julio Vilani : conectar o mundo », in « Julio Villani : It’s [a ga]me », Ed. Bookstorming, Paris, 2010]