BENÉ FONTELES
“Tempo Templo, Tempo Templo” 2018
Instalação redonda com seis colunas de ferro inglesas do século XIX encimadas por pedras encontradas na propriedade. Eles próprios sustentam esculturas de ferro símbolos da cultura africana, sete baobás e diversas plantas medicinais e aromáticas... O trabalho deve ser regularmente ativado por performances envolvendo os vizinhos da Usina e visitantes.
A obra “Templo Templo Tempo Templo” é uma homenagem ao povo africano que foi humilhado e escravizado nos engenhos de cana-de-açúcar durante a colonização. Agora os símbolos de seus Orixás triunfam nas pedras capitais sobre as colunas de ferro inglesas de um país que tanto escravizou quanto “colonizou” culturas. Triunfam como o samba e outras artes não apenas na chamada cultura popular brasileira, pela voz de seus afrodescendentes e do povo mestiço do Brasil.
O ferro fundido das colunas nos lembra o Orixá Ogum, o senhor das guerras e demandas e ferreiro em forma de muitos instrumentos para uso agrícola, para a guerra e outros ofícios. As colunas também nos lembram artefactos feitos industrialmente para a construção do açúcar plantações de cana em todo o Nordeste e falar sobre a memória fabril e o patrimônio histórico dessa cultura, que foi um fator fundamental na formação econômica e cultural de Pernambuco. As pedras, que são capitéis de colunas de ferro fundido e correspondem em posição a cada baobá, representam a força e a presença do Orixá Xangô, senhor das montanhas da força primordial e da justiça. As ferramentas dos Orixás são seus símbolos, logos poéticos. As ferramentas acionam ou acessam as energias dos espíritos das entidades aqui representadas e sentadas nas pedras: Exu, que abre os caminhos e a entrada do trabalho; Ogum, ó guerreiro que rege os Exus e protege seus fiéis; Oxóssi, que reina e protege as florestas; Ossain, que planta e colhe as ervas para a cura e condimentos; Oxumaré, a entidade do arco-íris, representada por duas serpentes, símbolos da sabedoria. As ferramentas são utilizadas no Candomblé nas oferendas de comida e bebida e outros adereços para pedir ou agradecer aos Orixás pelas graças alcançadas. São a fusão de signos e símbolos do culto das tradições das culturas africanas que se fundem com as novas formas
Bené Fonteles
Bragança, Pará, Brasil 1953
Vive e trabalha no interior de Minas Gerais, Brasil
Ativista, artista plástico, escritor, curador de arte, poeta, xamã e compositor brasileiro. Também produz trabalhos ligados à arte postal e à pesquisa de novas expressões artísticas. A militância ecológica é uma característica marcante em seu trabalho, sendo o idealizador do “Movimento Artístico pela Natureza”, que desde 1986 promove a conscientização ecológica e a educação ambiental por meio da arte. Grande parte de sua obra dialoga com a estética e a poética das culturas indígenas.